No ano do Senhor de 1882 a 3 de Novembro, nasceu no lugar de Gandarinhos, freguesia de Santa Maria de Carvoeiro, uma menina que foi baptizada no Mosteiro de Carvoeiro, na parte da tarde, a 5 de Novembro de 1882, à qual foi dado o nome de Maria. Há cem anos! Na sua infância, cedo se descobriu a sua inclinação para Deus pois, ao atingir a puberdade, a sua fé manteve-se fiel apesar do clima e perseguição de rapazes. Muitas vezes desabafava: “Estou a ser perseguida pelo demónio.“ Imitou São Francisco de Assis, pois tudo abandonou, para pensar somente em Deus. Quando recebeu a herança de seus pais, metade de um campo e uma bouça na Paradela, depressa se desfez dela, livrando-se de um pesadelo que a consumia. Depois de libertada, dedicava-se a fazer vassouras de giesta e vendia-as aos lavradores para as suas eiras, em troca de alguns tostões ou uma tigela de caldo ou um pedaço de pão. Quando não tinha mercadoria, pedia esmolas. Num pote fazia sopa para 3 dias, sem adubo, com batata ou couve. Tinha muita arte para esculpir em pedra ou madeira. Todos conhecem no monte um penedo desbastado por ela com um pico rombo. Além do penedo, fez vários trabalhos de estátuas em pedra e madeira. Um dia apareceu na casa dos meus pais, na freguesia de Durrães. Pedi-lhe então: “Ó senhora Maria, é capaz de me fazer um Santo António em pedra?” Respondeu-me prontamente: “Faço, sim.” Arranjei uma pedra e emprestei-lhe um pico. Com o maior desembaraço, numa tarde concluiu a estátua do santo, sem ter modelo à sua frente. Estão espalhadas por particulares várias estátuas em pedra e madeira, que não podem negar a arte que possuía Maria Pomba. Era, por todo o Vale do Neiva, conhecida pela Maria Pomba pois trazia sempre consigo uma pomba branca que ela alegava ser a imagem do Divino Espírito Santo. Com esta pomba deram-se várias passagens na vida desta santa mulher. O Sr. Prior Fontelo conhecia bem Maria Pomba mas tinha certa dúvida sobre as suas virtudes. Ela passava horas a examinar as imagens do convento para depois traçar as suas estátuas. Segundo me informaram, certo dia o Sr. Prior negou a comunhão a Maria Pomba e ela, aflita, deixou fugir a pomba que voou e foi pousar-se no altar ao pé do sacrário. Desde esse dia o Sr. Prior não lhe tornou a negar a comunhão. Noutra ocasião, na missa da tarde, na capela de Santa Ana, quando Maria Pomba se aproximou da comunhão, os rapazes tentaram tirar-lhe a pomba, a qual deu um voo e saiu pela porta do lado. Maria Pomba começou a chorar. Entretanto, a pomba tornou a entrar pela mesma porta e foi pousar no altar de Nossa Senhora da Soledade, onde Maria Pomba ficava sempre ajoelhada. No fim da missa, o Sr. Prior chamou os rapazes à ordem, para que respeitassem Maria Pomba e não se repetissem casos como este. As suas conversas eram só em Deus. Quando não podia ir ao Mosteiro e os sinos tocavam para a bênção do Santíssimo, Maria Pomba saía da cabana, ajoelhava no chão e batia no peito como se estivesse na presença. O seu único vestuário era composto por saia e blusa azul, avental da mesma cor e lenço branco. A sua vida inteira foi de penitência contínua. Dormia dentro de uma caixa velha coberta com uns farrapos. O travesseiro era composto de pedras cobertas com folhas secas de árvores. Os rapazes organizaram várias procissões ao penedo. Uma delas foi organizada pela Senhora Ana Rodrigues Teixeira, em virtude de Maria Pomba alegar que no penedo aparecia o Brinquinho do Céu, ou seja, Nossa Senhora. A procissão partiu do lugar dos Carvalhos, com muita assistência. Um andor, ornamentado com flores, foi levado aos ombros dos rapazes. O terço foi rezado no percurso e cantado nos mistérios. Maria Pomba acompanhou essa procissão. A cada passo olhava para o céu e ria-se, dizendo: “Vi Nossa Senhora.” Outra procissão se organizou noutro dia. Maria Pomba, para que os rapazes não se enganassem nos atalhos, foi à frente, fazendo cruzinhas nas pedras. Nesta Procissão, o jovem Domingos Maciel de Araújo fazia o lugar de padre e quando a procissão chegou ao penedo fez o sermão da festa. Rezaram e cantaram orações da Igreja. Maria Pom