“... Este cruzeiro encontra-se na Av. de Sintra, na Abuxarda. No seu pedestal tem somente “Maria do Carmo de Melo; 20-9-1902”. Trata-se da filha do Conde de Sabugosa que regressava de Sintra com o seu pai e aqui sofreu um acidente fatal com a sua charete-pannier puxada por um cavalo, oferecidos pela rainha D. Amélia. No período republicano o cruzeiro foi alvo de vários atos de vandalismo mas reconstruído com a quotização de habitantes de Cascais. Esta história está bem documentada numa carta do Conde de Sabugosa ao Jornal A Nossa Terra, publicada em 20 de Outubro de 1917, quinze anos após o acidente, e da qual não resisto a transcrever o seguinte excerto: "Illmo e Exmº Sr. Director de A Nossa Terra (...)Todas as povoações da beira mar são como os pescadores. Sentem a poesia das ondas e o encanto das tempestades. Cascaes, porêm, tem sôbre as outras um predicado mais nobre - sabe apreciar com compaixão os temporaes que assolam as almas e desbastam os corações. Tenho d’isso uma prova, que é ao mesmo tempo uma recordação enternecedora. Há annos a população d’esta villa, commovida ainda com a lembrança d’uma tragédia recente e indignada com o attentado selvagem que profanou a luctuosa memória, remiu-se por um movimento espontaneo de piedade, e, numa subscripção de quantias mínimas quotizou-se para reconstruir o Cruzeiro da Abuxarda, arrazado por mãos criminosas. Esse Cruzeiro tinha sido levantado para commemorar saudosamente a maior tormenta que jamais devastou o ânimo de seus Paes. Não simpathiso com a exteriorisação de sentimentos íntimos. Mas um cruzeiro não é um reclamo espectaculoso, nem um estendal de Dôr. É simultaneamente uma prece e a mais symbolica fórma de expressar uma saudade." ...” #historiasdahistoriadecascais